Mindfulness e Filhos

Mas afinal o que é isto de Mindfulness, de que tanto se ouve falar?

Fui pesquisar. Segundo o Observador "O mindfulness é um treino mental que ensina as pessoas a lidarem com os seus pensamentos e emoções. Ajuda uma pessoa a distinguir o pensamento útil daquele inútil que, em determinadas circunstâncias, chega a ser prejudicial."

Jon Kabat-Zinn é o fundador e diretor da Stress Reduction Clinic, no Centro Médico da Universidade do Massachusetts, e Professor Associado no Departamento de Medicina Preventiva e Comportamental. Foi um dos pioneiros no desenvolvimento de pesquisas experimentais com Mindfulness. 
Jon Kabat-Zinn não apresenta a meditação mindfulness num contexto religioso, sendo um método que pode ser aplicado a qualquer pessoa que sofra de stress, independentemente da sua cultura, religião, ou sistema de crenças. É exatamente a simplicidade da técnica que a torna útil como técnica de redução do stress. 

E como é que isso nos pode ajudar a ser melhores pais? 

Através da Parentalidade Consciente, segundo Mikaela Oven. Mia, como gosta que lhe chamem, nasceu no sul da Suécia mas vive em Portugal desde 2001. Para além da imensa formação que tem, dos workshops que administra e do acompanhamento e coaching que faz também editou dois livros sobre este assunto. Aquele que mais me interessa neste momento é "Educar com Minfulness", nada mais nada menos que um guia de parentalidade consciente para pais e educadores, o Mindfulness aplicado à parentalidade que nos ajuda a pensar a educação de forma consciente e plena, libertando-nos da culpa e da ansiedade.


Então, se eu quiser fazer isso, como é que lá chego?
Eis um excerto de uma entrevista da Mia à Revista Activa:
"Relaxe e não se culpe | O Mindfulness ajuda-nos a aliviar a pressão e a culpa de sermos ou não bons pais, tentando compreender o que está por trás dos conflitos em vez de os corrigir. “Às vezes conseguimos fazer as coisas que queríamos, e outras vezes não, e está tudo bem, porque massacrarmo-nos com ‘não fiz o que devia’ ou ‘será que estou a fazer o que está certo’ só vai criar culpa inútil”, explica Mikaela Öven. “É importante transformar essa culpa em algo mais útil. Claro que fazemos erros, mas estamos sempre a aprender.”
Pense no que quer dos seus filhos | “A minha intenção com este livro era fazer as pessoas refletirem sobre a maneira como se estão a relacionar com os filhos. Por exemplo, muitos de nós ouvimos uma dica, vamos logo experimentar, e não pensamos se aquilo é adequado à nossa criança, se está alinhado com aquilo que eu quero para ela ou se vai funcionar com o seu carácter.”
Experimente as sete atitudes do ‘mindulness’ | Não julgamento, paciência, mente de principiante, confiança, não-esforço, aceitação e deixar ir. “Defendo que as pessoas escolham um tema de cada vez, o que fizer mais sentido na altura de começar, e que depois vão tentando integrar todos eles”, explica Mikaela. “No fundo, isto são ferramentas para usar durante a vida. Não são uma fórmula, mas uma ajuda para refletirmos.”
Perceba que a sua criança é única | Todas as crianças são diferentes e têm necessidades diferentes. “Imagine que eu sou muito extrovertida, tenho imensos amigos, adoro falar, e depois o meu filho é o contrário de mim? Claro que eu quero ‘puxá-lo’ para ser mais parecido comigo, mas não podemos moldar a criança à nossa imagem. A estratégia não é forçá-la a ser diferente, é entendê-la no contexto das suas necessidades e ajudá-la dentro delas.”
Torne-se uma boa detetive | Como descobrir aquilo de que a criança precisa? “Imagine que a sua criança faz uma birra. Investigue onde é que ela faz as birras, a que horas, se tem alguma necessidade… Por exemplo, quando é que acontecem as maiores birras? Às 10 da noite no shopping. A criança está cansada, com sono e fome, quer sair dali. Às vezes, tudo é tão simples como isso. E depois tudo depende do tipo de criança que tem.”

Procure perceber em vez de corrigir | “Quando se procura soluções, não temos de corrigir comportamentos. Imagine que faço um quadro com estrelas e lá ponho uma estrela de cada vez que a minha filha dormir à noite sem chorar. Desta maneira eu não aprendi nada com ela e ela não aprendeu nada comigo. Temos de observar, de falar, de ter uma linguagem autêntica, próxima e pessoal. Por exemplo, é preferível dizer ‘eu quero’ do que ‘a mãe quer’.”
Cuidado com os obstáculos à comunicação | Que obstáculos? “Dar conselhos, dar dicas, fazer demasiadas perguntas, não saber ouvir. Há uns tempos fiz um acordo com a minha filha: só lhe dou conselhos se ela pedir. Às vezes pergunto: ‘Queres que te diga o que fazer nesta situação?’ ‘Não’, diz ela, ‘só quero que me ouças’.”
Eduque pela consequência e não pelo castigo | “O castigo raramente funciona: é um exercício de autoridade que não ensina nada à criança nem à mãe”, nota Mikaela. “O castigo está geralmente desligado do ato que o causou, e a criança não aprende uma alternativa, nem percebe os resultados do que aconteceu. Se ela bateu ao irmão e nós dizemos ‘ao jantar não comes sobremesa’, em que é que estamos a ajudá-la a perceber e a melhorar? A criança só muito mais tarde consegue fazer a ligação entre o ato e o castigo, e como não consegue separar o seu comportamento da sua pessoa, a sua autoestima vai ficar de rastos, e isto é a única coisa que vai conseguir com um castigo.” Confie na criança e nas suas capacidades: se sabe que vai ser castigada, nunca vai arriscar.
Melhore a autoestima (a deles e a sua) | “Juramos sempre que os amamos incondicionalmente, mas depois dizemos coisas como ‘bateste ao teu irmão, já não gosto de ti’. Quando a vida não corre bem, a autoestima garante que eu me vou aguentar, apesar de não ter naquele momento autoconfiança. Olhe para os jogadores de futebol: têm imensa confiança quando estão no auge, mas quanto o jogo não corre bem lá se vai a carreira…”
Reconhecer é mais importante que elogiar | “Quando eu elogio, foco-me no fazer e no ter. Quando eu reconheço, eu vejo a criança à minha frente. Por exemplo, imagine que uma criança desce um escorrega e grita ‘Olha para mim, mamã’. Nós cá em baixo dizemos ‘Ah, muito bem’. Isso é um elogio. Mas se quero reconhecer a criança, olho e aceno. E pergunto depois ‘Como é que foi, estar lá em cima?’ Quando elogio, não me interesso e a conversa pára ali. Se reconhecer, converso, interesso-me.”
Confie na sua capacidade enquanto mãe | “A maioria de nós tem a autoestima pouco saudável e não confiamos em nós próprios porque não fomos educados a fazê-lo”, nota Mikaela. “Fomos educados a pensar que a minha opinião e o meu instinto não vale tanto como a daquele senhor que foi treinado para fazê-lo. Mas temos de recuperar a confiança.”
Esteja atenta aos segundos sentidos | Às vezes penso que estou a fazer tudo como devia, mas tenho uma ‘agenda escondida’. “Digo ao meu filho: ‘já devias adormecer sozinho, tens 9 anos’ mas no fundo gosto daquele momento com ele.” Ou seja, dizemos uma coisa, mas acreditamos noutra. “Temos de ter congruência interna, porque senão os meus filhos vão resistir à minha mensagem, eles conhecem-nos para lá das palavras. É mais importante sermos congruentes do que consistentes. Podemos dizer ‘olhem, ontem fizemos um castelo de cadeiras aqui na sala, mas hoje dói-me a cabeça e não me apetece fazê-lo’. Não há audiências resistentes, só há comunicadores inflexíveis.”"
É, sem dúvida, um dos livros mais interessantes sobre este assunto.








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Comentários

  1. O livro deve ser excelente para a educação. Beijinhos

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    1. É, de facto, muito bom Ana Rodrigues. Tenho-o na minha mesinha de cabeceira para estar à mão sempre que necessário. Beijinhos

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